ENTREVISTA À REVISTA SÍNDICO
Edição 227 Julho/Agosto 2016
Rio de Janeiro, 27 de julho de 2016
CUPINS NÃO!
Silenciosos, eles se alimentam de materiais à base de celulose e podem comprometer áreas importantes do condomínio. Saiba como livrar sua unidade dos pequenos e incômodos cupins.
Quando o assunto é cupim, todo cuidado é pouco. Na maior parte das vezes, esses bichinhos — que, pela Biologia, são classificados como insetos sociais da Ordem Isoptera – agem silenciosamente e somente são descobertos quando já promoveram estragos consideráveis em móveis e estruturas.
Por consumirem materiais à base de celulose, eles são capazes de atingir diferentes espaços de casas e apartamentos. De papel a madeira, tudo pode acabar virando alvo dos cupins. As áreas comuns da unidade, inclusive. Em busca de alimentos, eles invadem a estrutura do condomínio para atacar as peças de madeiras que estão em contato direto com alvenaria.
Podem destruir telhados, portais, lambris, armários, rodapés, madeira dos quadros de energia, árvores de jardins, além de entupir os condutores de energia com seus dejetos. E o pior: invadem os apartamentos.
“Se isso acontece, a culpa pode acabar recaindo sobre o síndico, pois muitos moradores culpam o condomínio por seu imóvel estar sendo atacado. Para evitar complicações, o gestor deve efetuar a descupinização o mais rápido possível, minimizando o risco de invasão dos apartamentos” – alerta Cosme Barros, biólogo e responsável técnico de uma empresa especializada em combate e controle de pragas em condomínios.
Cosme conta que, ao longo de sua trajetória profissional, lidou com casos bem sérios de destruição de bens patrimoniais provocados por cupins. No mais grave, um apartamento fechado por cinco anos foi tomado pelos insetos. Havia ninhos em móveis e roupas, que se alastraram para as unidades vizinhas.
“Parecia uma cena de terror: eram “caminhos” de cupim para todos os lados. Todos os móveis estavam sendo atacados e completamente destruídos. Os cupins fizeram os ninhos dentro do apartamento, disseminando para o resto do condomínio. Somente depois de exterminar esses ninhos e realizar a descupinização geral do apartamento, conseguimos controlar a infestação do prédio” – narra.
No Conjunto Jander Antonio Monteiro, com 56 unidades, em Niterói, os cupins foram descobertos antes de provocarem estragos como o citado por Cosme.
“A gente foi realizar o controle de baratas e ratos e acabou descobrindo os cupins. A sorte é que a colônia estava começando e querendo ainda se alojar” – afirma Luciano da Silva, síndico do Condomínio, reforçando a importância de o gestor cumprir a agenda periódica de dedetizações estabelecida em lei.
Quanto antes o cupim for identificado, menor será o estrago feito e mais fácil o seu extermínio. Mas, nem sempre, é fácil saber onde estão os focos do inseto. Nesse sentido, é importante, antes de mais nada, entender o comportamento, as condições em que vivem e as principais espécies de cupins.
Cosme Barros explica que um dos tipos mais comuns nos condomínios é o cupim de solo. Eles atacam, em especial, as madeiras que estão em contato direto com o solo e são conhecidos por construírem verdadeiros túneis — muitas vezes, com metros e metros de comprimento — entre a fonte de alimento e seu local de origem.
Outro tipo bastante encontrado nas unidades residenciais é o cupim de madeira seca. Geralmente, ele chega ao condomínio por intermédio de madeiras externas contaminadas que, em contato com o mobiliário condominial, acaba se alastrando. Este cupim vive em colônias menores do que os de solo e, por isso, seus ataques são mais lentos, sendo grandes as chances de controle.
Por último, há o cupim arbório, cujo hábito é construir ninhos em árvores e em outros locais altos, como postes, paredes e madeiras dos telhados. Após fixar seus ninhos, a espécie fura túneis largos e escuros por cima das estruturas, em diferentes direções. É considerado um dos tipos mais difíceis de exterminar, já que suas colônias possuem mais de uma rainha. Ou seja, é necessário extinguir todas elas para que, efetivamente, a infestação seja combatida com sucesso.
Na hora de buscar sinais de cupins, é preciso, antes de mais nada, ter atenção especial às áreas com alta umidade, isso porque eles preferem locais escuros, quentes e com farta disposição de alimento. É importante também saber que cada cupim deixa um tipo de rastro diferente:
“Se for cupim de madeira seca, o ataque pode ser percebido graças principalmente ao acúmulo de resíduos encontrados junto à peça atacada. Esses resíduos, que são os restos fecais do inseto, têm a forma de pequenos grânulos, parecidos com farinha de mesa” – aponta Cosme.
Já os subterrâneos constroem túneis em muros ou paredes, em busca de novas fontes de alimentos.
“Quando os cupins de solo atacam paredes de alvenaria ou madeira, elas ficam úmidas e passam a emitir um som diferente, quando tocadas. Se você bater em uma madeira atingida por eles ou pelos de madeira seca, verá que ela produz um som grave, como se estivesse oca” – explica o biólogo Cosme Barros.
A principal dica para o síndico que identificar colônias de cupins em seu condomínio é: Aja! O mais rápido possível. Assim que for confirmada a existência dos insetos em áreas comuns da unidade, o gestor deve entrar em contato com empresa especializada em controle de pragas para a avaliação da situação.
Por mais que existam à venda no mercado alguns produtos cupinicidas e tutoriais na Internet com pretensão de ensinar a exterminar, pessoalmente, essas pragas, fuja da tentação do “faça você mesmo”. Além de o Ministério da Saúde proibir o auto-serviço de controle de pragas urbanas, é importante dizer que o síndico e os funcionários do condomínio não estão preparados para este tipo de serviço. O processo de descupinização é um trabalho técnico que somente deve ser realizado por profissionais capacitados.
“A melhor forma de se resolver o problema é estudar cada caso e estabelecer a melhor estratégia em função das condições locais. Existem diversas técnicas, cada uma delas adequada a determinada situação ou espécie de cupins. Há, por exemplo, o tratamento das peças de madeiras por meio da pulverização e injeção da calda cupinicida, bem como a barreira química ao redor das construções para evitar novas invasões. Em alguns casos, o combate se dá através da injeção de produto na alvenaria ou então pelo polvilhamento nos condutores de energia e nos painéis elétricos” – explica Cosme Barros.
A aplicação realizada por profissional habilitado permite ainda que certos cuidados sejam observados. É necessário, por exemplo, identificar onde se localizam tubulações de água, esgotos, energia e de gás. Da mesma forma, é preciso atenção na aplicação do produto químico quando realizada em áreas vulneráveis, como telhados, e em locais com animais de estimação, crianças, idosos e pessoas alérgicas. Estes não devem circular nas áreas que estão sendo tratadas.
Outro ponto importante se refere às unidades vizinhas ao ponto de ataque. Se for conduzido erroneamente, o controle de pragas pode provocar fuga dos cupins para os apartamentos próximos. Os cupinicidas têm efeito residual e de repelências. Pode ocorrer de a descupinização matar os cupins que estão atacando a peça e repelir os demais indivíduos da colônia, que podem procurar outro local para se alimentar.
“Com o combate e o controle de pragas, você evita males maiores, como a contaminação de cisterna de água ou um roedor que morde criança no play, por exemplo. E, ao optar por contratar uma empresa para isso, você tem garantias de que os produtos serão aplicados na quantidade correta e a iniciativa só trará benefícios ao condomínio” – finaliza o síndico Luciano.